San Pedro de Alcantara (1786)

    Uma investigação arqueológica subsidiada pelo Instituto Português de Arqueologia. (translate with Systran or Altavista)

Especificade do projecto (1999)

O programa San Pedro de Alcantara nasceu como um dupla investigação arqueológica, em terra e no mar : os actores da navegação e do drama, inumados na costa norte de Peniche, e os vestígios do grande navio de guerra, no fundo do mar. A descoberta de alguns fragmentos de um pequeno vaso de cerâmica da cultura Chimu, contemporânea dos Incas, no Peru anterior à chegada dos conquistadores espanhóis, veio lembrar o que os manuscritos afirmavam: o naufrágio do San Pedro de Alcantara na costa de Peniche há pouco mais de duzentos anos, faz de uma porção do fundo do mar de Peniche um território arqueológico... sul-americano. 

O facto do naufrágio ter-se dado junto a uma falésia rochosa, num local aberto à ondulação oceânica, trouxe algumas lições aos mergulhadores. Após anos de "fola", enjoos diversos e ensaios de toda a espécie, a solução radical para os mergulhadores aceder ao sítio submarino é... voar a partir do alto da falésia. O voo dura trinta segundos, às vezes um pouco mais, graças à tirolesa, um protótipo desenvolvido por F. Moreira dos Santos, que permite aos mergulhadores sonhar um breve instante que estão a voar por cima do mar. O voo nos braços da tirolesa acaba num splash gentil controlado por cabo, desde o alto da falésia.

Apoios

  • Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (Instituto Português de Arqueologia)
  • Câmara Municipal de Peniche
  • Clube Naval de Peniche
  • Geograf (software MapInfo, Lisboa)
  • Soquímica (balança de precisão : 1:100 de grama)
  • Telecel (seguros de vida)
  • Grupo Fórum (apoio a comunicação)
  • CENFIM (Centro de ensino de técnicas de trabalho dos metais),Peniche
  • Laboratoire de Tribologie, Ecole Centrale de Lyon (estudo de micro-textura de superfície de peças metálicas provenientes do naufrágio).
  • Entreposto Comercial (em preparação)

Agradecimentos

  • Rui Garcês, professor no CENFIM de Peniche, realizador das ferragens da tirolesa concebida por F. Moreira dos Santos
  • "Mergulhão" (João Carlos Raimundo, loja de mergulho, Peniche)
  • Carlos Costa, Clube naval de Peniche, co-autor de um milagre de inverno em torno do Poseidon, velho compressor de alta pressão com muitos anos de vida e viagens em demasiada. Só sobrevive, como os anciões, com o médico ao lado. Carlos Costa foi um desses. 
  • Obrigado a ele e ao senhor Zé, marinheiro dos mares do mundo, filho da ilha Berlenga, professor de vela, rejuvenescedor da secção de Vela do Clube de Peniche.

A equipa 1999

Jean-Yves Blot, historiador, arqueólogo e mergulhador, responsável das campanhas submarinas em Peniche. Vê no mar de Peniche um laboratório onde testar ideias sobre navios antigos e a maneira como desaparecem. 

Luis Ribeiro, dito "O Almirante", dois anos de marinha de guerra, finalista de um curso de história, funcionário da Câmara Municipal de Lisboa. Chegou a primeira vez ao San Pedro de Alcantara em 96 enviado pelo seu professor, o pré-historiador Luis Raposo. O Almirante tem a particularidade de se deslocar até ao local de mergulho de moto. 

Ulisses, onze anos, filho de um instrutor de técnicas de resgate. Assistiu à montagem da tirolesa. Não tem força para levantar garrafas de mergulho mas sabe muito bem pôr um arnês de segurança e trazer cabos e acessórios quando fazem falta. Nos dias de mar chão, visita o estaleiro submarino, a partir da superfície. 

Fernando Moreira dos Santos, instrutor de técnicas de resgate e salvamento, o "pai" da tirolesa que modificou de maneira radical a intervenção dos mergulhadores no estaleiro submarino da costa Norte de Peniche. A sua presença e a da sua equipa no alto do rochedo dá aos mergulhos um conforto inusitado em intervenções na costa aberta à ondulação oceânica. Só quem viu a tirolesa em acção pode acreditar. Fernando Moreira dos Santos desenvolveu o protótipo de tirolesa para o estaleiro do San Pedro de Alcantara a partir da primavera de 1997. O sistema foi testado na campanha SPA daquele ano e desenvolvido na sua forma final em 1998. O ano de 1999 traz aos mergulhadores os frutos da experiência anterior. Descer até ao mar é hoje um salto ao ralenti, um longo voo magnífico por cima dos rochedos e da água verde em baixo. Único. 

Carlos Ryder, mergulhador profissional, restaurador de antiguidades. Participou na campanha San Pedro de Alcantara de 1988. Mergulhou e trabalhou nas águas de Cabo Verde e Moçambique, mas tudo começou há quase meio século ao levantar âncoras e cepos no mar de Cascais. O que mais gosta fazer é simples : mergulhar... e restaurar. Fala de madeiras antigas com o carinho do médico ao falar dos doentes, e das curas. No dia dois de Agosto, ontem, em Peniche, na presença de um dos filhos, levantou do mar, após um mergulho de cinselagem submarina, uma concreção ferruginosa com um pequeno objecto de porcelana chinesa azul e branca, a peça numero 44. Anita, a escultora da equipa, que viu a porcelana debaixo de água há dias falou-nos de Kangxi, o imperador amante das artes. Saberemos dentro de dias. 

, aluno de Moreira dos Santos. Tem uma tatuagem no ombro esquerdo e muita energia e talentos quando se trata de trepar rochas. Já participou em escavações de restos de Dinossauros em grutas do interior de Portugal e, depois da Paleontologia, descobre hoje a Arqueologia. Não tem carta de mergulhador mas presta apoio no mar, em apneia. Sinais característicos: está fascinado pelo Tibete. 

Mário Jorge Almeida, arqueólogo, mergulhador profissional, antigo funcionário do Museu Nacional de Arqueologia. Participou em toda a campanha submarina no sítio do San Pedro de Alcantara em 1988. Os seus talentos múltiplos valeram-lhe o nome definitivo de Professor Pardal, com tarefas que se estendem desde o desenho arqueológico até à reparação de compressores. Há onze anos, o filho Gonçalo tinha apenas quatro anos. Hoje Gonçalo está no alto a falésia, de arnés na cintura. Quando o mar está calmo, vai ver o pai desde a superfície. 

Ana Mira NunesAna Mira Nunes, professora de artes plásticas, mergulhadora, algarvia, dona de um gigantesco sorriso. Vê o mundo com as mãos. Desta vez, explora o mar. O início da sua história está contado na apresentação da campanha San Pedro de Alcantara deste ano. Anita tem a características raras para uma artista plástica, deve ter gostado -muito - da cadeira de geometria descritiva quando estava nas Belas Artes. Estes amores passados permitem-lhe hoje atacar sem receio a maré de números que os mergulhos trazem todos os dias do mar. 

Stéphane Gautron, historiador, especialista de epigrafia grega e romana. Administrador de rede informática no departamento de letras da sua universidade (Caen, em França), pratica escalada, artes marciais e diversas actividades desportivas. Gostou tanto das rochas da Papôa que conheceu em 1998 que voltou em 1999, com Mahesti, uma colega. 

Maria Luísa Pinheiro Blot, arqueóloga, mergulhadora. Dirigiu a escavação em terra do sítio de inumação dos náufragos do San Pedro de Alcantara. Há dois meses, orientou a missão da antropóloga peruana Judith Vivar, que veio estudar nas reservas do Museu Nacional de Arqueologia os restos osteológicos de 29 dos náufragos do naufrágio de 1786. Esta faceta da investigação vem lembrar a todos os participantes da escavação submarina que um naufrágio NÃO se resume a vestígios submersos e que os actores, os homens e mulheres que deram vida a esta viagem interrompida, estão inumados algures nas cercanias do local do drama. Em terra, Maria Luísa é autora da maioria das plantas, desenhos e fotografias submarinas realizados desde o início do estaleiro San Pedro de Alcantara em 1988. Um acidente ocorrido há anos atrás em mergulho limita hoje as suas intervenções no sítio submarino. 

Carla Maricato : professora , arqueóloga de formação, tirou o curso de mergulho há quatro anos . Gosta dos textos de Oscar Wilde , da música dos "The Gift", das descidas e subidas na Tirolesa de Peniche , tem um riso contagioso , detesta vestir o fato de neoprene e gente parva (sic). 

Paulo Pacheco , 31 anos , espeleólogo , mergulha há quatro anos e vive com a arqueóloga do riso contagioso. Junta a talentos técnicos diversos uma calma olímpica que nem a fola lhe tira. 

João Pedro Pinheiro , 13 anos , nadador emérito , descobriu este ano a falésia, o canto do compressor , as mil e uma tarefas da Escola , o ruido da equipa. Gostou. Fica. De férias. 

Teresa Alves de Freitas , 22 anos , formada em História , variante Arqueologia , na faculdade de Letras do Porto . Sempre gostou de História , o pai tem o curso de mergulho . Cá está . Quando o mar de Peniche não deixa, Teresa navega no micro-oceano de fotografias de inventário do estaleiro do San Pedro. 

Alberto Magalhães trabalhou na Força Aérea. Traz a Peniche a música da pronúncia do norte de Portugal onde vive e mergulha, partilhando com a mulher uma vida onde as palavras museu e arqueologia têm uma forte presença. Alberto participou uma vez numa busca de destroços de um avião a jacto espalhado contra o flanco de uma colina. Os destroços, conta ele, estavam distribuídos no sentido da trajectória do jacto... 

Ivone Magalhães conservadora do Museu Municipal de Esposende, vive a vida dos responsáveis de museus do litoral, conjugando geologia, arqueologia, etnografia, falando com pescadores, construtores navais, pilotos, mulheres do mar. No Norte, diz ela, os homens pescam. A "despesca" é com as mulheres, na maré vazia, na mão o bucheiro (uma vara grande com um gancho na ponta), à procura de polvos. Ivone publicou em Dezembro de 1998 um livro intitulado "Embarcações tradicionais. Em busca de um património esquecido", editado pelo Grupo Desportivo e Cultural dos Trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. 

Vasco Pires, San Pedro de Alcantara, PortugalVasco Pires, alentejano de sangue e sotaque, finalista de biologia marinha, nasceu no mar de trigo de Beja. No seu primeiro ano no San Pedro, em 1996, Vasco tinha, quando mergulhava, olhos do tamanho de um prato de loiça. Três campanhas em Peniche e muitos mergulhos no Algarve depois, o homem-rã de Beja tem hoje o olhar de uma foca veterana. 

Joana Mira Veiga , 21 anos, chegou a Peniche depois de uma queda a cavalo. Veio de braços abertos, para o que desse e viesse. Estuda biologia marinha em Faro. Entrou no San Pedro de vez no dia 18 de Agosto, de escopro na mão, ao descobrir uma bigota de madeira e ferro escondida na concreção nº4556.

José Miranda Ferreira, 56 anos, economista, penichense de gema. Começou a mergulhar há seis anos, praticou judo durante trinta anos, gosta ainda de ténis, de chocolate, ténis de mesa, da música de B.Bartok e de biografias de homens de estado, Richelieu entre eles. Tem três filhas, duas das quais mergulham com ele.

João Pedro Vaz. Lisboeta, 28 anos, quatro anos de Bélgica onde estudou na Academia de Belas Artes de Liège, especializando-se em ilustração e banda desenhada. Pratica o mergulho e a busca em arquivos. Descobriu em Peniche o rasto de Francis Drake, corsário que conheceu durante uma campanha do San Pedro, com Luis Falcão da Fonseca, outro mergulhador-investigador. Ambos tem perseguido o defunto inglês um pouco por todo o lado. A primeira parte da busca foi contada há pouco no Bulletin of the British Historical Society of Portugal.

Pedro Mira Veiga. 16 anos, lisboeta, estudante, vai entrar no 12º ano, na área de ciências. Pratica voley, natação e mais alguns desportos, incluindo a Internet. Pedro visita o mar de Peniche de tabuleta de desenho na mão, enviado em missões de volumetria submarina pela sua mãe Anita .

Per ÅkessonPer Åkesson, sueco, professor de matemáticas, editor de um sítio Web na Internet dedicado à arqueologia subaquática no mundo (www.abc.se/~pa/uwa/). Ele descreve-se como um "arqueólogo amador". Gosta de línguas e fala inglês, espanhol, francês, russo, alemão... e sueco. Não gosta em demasia de concreções em meio subaquático mas admite estar a aprender. 

 

1999

Textos San Pedro de Alcantara

Projet San Pedro de Alcantara, Copyright © Jean-Yves Blot, Peniche, Portugal. 
Conception: Francisco Oliveira , Ocidente - Centro de Estudos de História e Etnografia Marítimas. Rev maj '10


To Main Page Back to Nordic Underwater Archaeology